Ao encontro do Papa da Cultura do Encontro

Vivi dias especiais nos 26 dias pela Europa. Avignon, a cidade dos papas, me apresentou o primeiro castelo medieval. Barcelona foi a primeira grande cidade no continente e o contato com grandes multidões. Lisboa tem cara e jeito de casa, me trouxe uma família e abrigou a experiência da Jornada Mundial da Juventude.

É em Lisboa que começa essa história de encontrar Francisco. Na quinta-feira (03), vou ao encontro do Papa na Universidade Católica de Lisboa. Um compromisso com os universitários. O vi de perto (quem já foi em grandes shows e eventos sabe que o perto nessa situação é 200/300 metros, para enxergar com detalhes só mesmo pelo telão). O Santo Padre me cativou com suas palavras. Incentivou ao pensamento aprofundado, não se deixar levar pelas respostas simples e fáceis. A vida (acadêmica) é complexa. Para quem não sabe, um de minhas motivações em trabalhar com idosos na tese de doutorado é pela atenção que o papa Francisco dá a esse público. Saí da Universidade de Lisboa com a alegria de estar o mais próximo que eu poderia na JMJ. Afinal, mais de 400 mil jovens estavam inscritos e éramos 1,5 milhão no último dia.

Me enganei com a proximidade. Naquela mesma quinta-feira, no Parque Eduardo VII, rebatizado naqueles dias de Colina do Encontro, veria Jorge Bergoglio mais de perto.

Chego cedo ao lugar e vou caminhando até o primeiro grande bloco de público e encontro um grupo de brasileiros, passo a tarde com eles em uma das extremidades dos corredores. Os jovens comentam que ficaram ali, pois foram avisados que o papa iria passar ali.

E passou! Muita gente, pequenos empurrões e pés fincados ao chão para marcar território. Muitos braços levantados, celulares em riste, gritos, acenos, um grupo de argentinos subiu em cadeiras e estavam com o mate pronto. Francisco passou sorridente e firme em seu primeiro dia de Jornada, mas o carro não parou. Um momento rápido, fruto de algumas horas de espera, mas de considerável emoção. Desse dia, tenho as melhores fotos do papa no meu celular. A acolhida de Francisco foi um dos momentos mais marcantes para todos, com o perdão do trocadilho. Para os jovens peregrinos em Lisboa, mas também para todos aqueles que acompanhavam o evento, porque é neste dia em que o papa sublinha às juventudes e ao mundo inteiro: “a Igreja é o lugar de TODOS”. E assim, nos fez repetir com ele: TODOS! TODOS! TODOS!

A Jornada Mundial da Juventude seguiu nos próximos dias e eu segui a ouvir e ser tocado pelas palavras do papa latino americano. A JMJ encerrou no domingo (06), fui ao encontro de Nossa Senhora de Fátima no dia seguinte e na terça-feira (08) segui para Roma.

A quarta-feira, 9 de agosto de 2023, era o dia que eu tinha reservado para ir ao Vaticano, na Audiência Geral com o Papa. Lá estava eu, às 6 horas da manhã, em um dos portões na lateral da Praça São Pedro para ser um dos primeiros a entrar na Sala Paulo VI. Sentei no corredor, onde passaria o papa, com a camiseta da Jornada nas mãos. Sabia que ele iria falar sobre o assunto, afinal, era a primeira aparição pública depois da viagem. Francisco chegou de pé, com bengala, e foi direto para a cadeira no centro do palco. Falou sobre a JMJ e, ao final, sentou na cadeira de rodas e foi ao encontro das pessoas.

Coloquei o celular no bolso e segurei firme a camiseta verde escura que havia balançado todas as vezes que o Santo Padre falou sobre a Jornada. Sabia das reclamações de Francisco sobre as telas dos celulares, que muitas vezes as pessoas o olham pelo aparelho e não nos olhos. Sabia que sem celular teria muita chance de olhar e ser visto. Depois de vários minutos no atendimento aos casais recém-casados e a outros padres, bispos, religiosos e religiosas, Francisco veio pelo corredor.

Olhou na minha direção, mostrei-lhe a camiseta e ele sorriu. Sorri e a única expressão que me veio em português mesmo foi: muito obrigado pelas sua palavras na Jornada! Não tinha ensaiado essa, mas foi o que veio da espontaneidade de quem “ouviu com os ouvidos do coração”. O papa assentiu sorridente com a cabeça e baixou o olhar. Como se estivesse pensando em algo. Quase ao passar por mim, levanta a cabeça e responde: Deus te abençoe! Ele estava procurando as palavras para responder em português! Recebo dos seguranças um cartão com um foto e ele se vai. E eu, fico chorar.

Encontrar no olhar e nas poucas palavras o papa da Cultura do Encontro vai além da experiência pessoal afetiva e do instante significativo. Para quem vive a Igreja desde muito cedo e a vive com uma caminhada e um olhar da América Latina, Jorge Mario Bergoglio é mais do que um papa latino-americano. Papa Francisco é a resposta e personificação de uma proposta de vida de Igreja nunca vista no mais alto grau da hierarquia católica.

Para mim, não é questão de militância, de acirramento ou de representatividade. Vai além disso, até porque o papado não é um sinal da representação de vontades, mas dos desígnios de Deus para a humanidade. Encontrar eco nas palavras do Papa Francisco é sentir-se mais que filho de um Santo Padre, mas companheiro de caminhada. É como se eu olhasse para o lado e pudesse ver, de novo, Bergoglio a me olhar e dizer: Deus te abençoe. Hoje, eu caminho e posso olhar como possível os passos do papa “no meio da gurizada”, nos oratórios, nos pátios das obras sociais, nas procissões populares e caminhadas de nossas paróquias.

Em muitos dias, ouço ainda Francisco a dizer: Deus te abençoe. Como quem diz, siga em frente!

A foto da capa é a primeira que consegui fazer depois de parar o choro e a daqui de baixo é a foto da audiência, com zoom.

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